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Por Que Sou Filósofo?
Por Que Sou Filósofo?

Um filósofo não é um simples pensador. Muito menos um professor de filosofia!

Para se ser filósofo, é necessário constituir-se uma sistemática.

E o que seja uma «sistemática»?

Ela consiste em criar um sistema de pensamento fundado em ideias e conceitos originais expressos por um discurso genuíno e radicalmente novo. Seja em que domínio for.

Assim, Parménides foi um filósofo. Platão foi um filósofo. Descartes foi um filósofo. Kant foi um filósofo. Nietzsche foi um filósofo. Até Einstein. E Marguerite Yourcenar. Mas não Fernando Pessoa, por exemplo, que se tratou apenas de um grande pensador. Bem como outros pensadores (Bertrand Russell, como exemplo, pelo facto de estar imerso na mecanicista escola empírica do pensamento anglófono, ficou entre o filósofo razoável e o grande pensador, mas o que teve de genuíno foi elementar e fraco).

Filósofo é o que, lido uma nova vez por quem o conheça já suficientemente, assim que este pegue em produção inédita daquele indivíduo, de pronto infere acerca dos modos de abordagem e da exposição formal (discursiva) dele. Assim não se surpreendendo com aquilo que irá encontrar no decurso da leitura. Adivinha-o, de certa forma.

Quem ler os meus livros, muitos deles ainda ignorados no conteúdo, perceberá isso.

Que eu não seja reconhecido como tal, já constitui outra questão para mim completamente lateral, pois não me preocupa ser entendido e reconhecido pelos demais, mas apenas avaliado e sentenciado por mim próprio. E o problema está mesmo aí: ser entendido. Uma vez que as academias estão cheias de medíocres, como em todos os setores (!), mais ainda o vulgo leitor, que, então nesta época de boçal massificação pretensamente democrática [todavia apenas com o intuito de capciosamente levar as gentes ao consumo, para o que convém estarem essas gentes bestializadas, embrutecidas, rotundamente macdonaldizadas, cheias de grotescas tatuagens e brincos e outras mais paneleirices do género, além daquele cumprimento de punheta pretensamente original, dos ginásios e circuitos de manutenção onde cuidam do físico e esquecem o espírito (a cultura) – etc., etc., etc.], a única coisa que sabe ler é as esventradas notícias de Correio da Manhã, ou as bisbilhotices ridículas de Nova Gente, ou as romançadas de Rodrigues dos Santos e Sousa Tavares, as ignorâncias de Saramago e as europeias africanices do meu ex-colega de escola Agualusa, cheio de poses e mais poses para o pobre consumismo visual do mundito da lusofonia, ou de um gato coitado, que não mia porquanto escrevinha. (Envergonhados) Elogios de editores, de profissionais de áreas afins, tudo isso tenho tido. Mas ninguém a reconhecer, a promover. Porque tal, na sua consideração, implicaria desvalorizá-los perante o conceito que querem fazer de si mesmos, sabendo que não detêm idêntico valor. E a inveja cala-lhes então o elogio, mais ainda a promoção de outrem.

Que planeta de merda, a Terra. Quais paraíso!

EV,

28-11-2016.