Menu | Edmundo Vallellano |
Precisávamos de apanhar o autocarro de Peterborough para Londres em fins de 2013. O comboio era três vezes mais caro (!). Embora (bastante) mais rápido.
A estação rodoviária em Peterborough é a coisa mais desolada de terminal que se possa pedir: vidro e pedra castanha clara mal trabalhada e gasta, péssimo isolamento da estrutura, a deixar entrar vento gélido por toda a parte. Enfim: um desconforto.
Àquela hora já só se conseguia bus para Londres por via indireta: Cambridge. Saindo em Cambridge, esperar-se-ia uma hora e meia pela ligação a Londres.
E esperámos, pois então. Ao relento, era início de noite relativamente ventosa, por vezes a chuvinha miúda – e uma tarde levemente gelada: era inverno.
A única defesa ali existente tratava-se da cobertura do apeadeiro, um telheiro de paragem de autocarro em rua contígua a um grande parque na cidade, como é usual haver em Inglaterra.
Se a intermitente chuva miúda decidisse chamar o boreal amigo vento forte gelado, então não haveria salvação possível. Seria aguentar ali e cara alegre – e corpo molhado.
Oh, Hamlet... .
Valeu termos conhecido um idoso mongol, com o qual ali ocupámos o interminável tempo a conversar (intermitentemente, dada a inquietação do homem), indivíduo ainda jovial e buliçoso a caminho dos noventa, cabelo já todo branco, mas sem peladas, que ali ia de vez em quando prestar colaboração como consultor na universidade e vivia em casa do filho pintor na Londres setentrional. Era expert em semiótica e havia sido professor universitário na universidade de Ulan Bator e no curso de Linguística. Tendo aprendido algumas das principais Línguas indo-europeias: inglês e francês, em que se comunicava sofrivelmente, espanhol, mal, assim como o russo, que falava fluentemente por força dos tempos marxistas e da influência soviética na Mongólia.
EV,
3-1-2014.