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O Humanismo
O Humanismo

                                                            O Humanismo

 

O que é o «humanismo»?

O humanismo trata-se do entendimento que, em certo sentido, é herdeiro da velha tradição teológica medieval cristã, que rezava que toda a criação natural fosse resultado de uma ação divina e o ser humano o seu máximo expoente ou representante, pelo que a Criação não só se culminaria no elemento humano, como sobretudo ficaria maximamente realizada através de tão privilegiado representante, aí se tornando esse humano então o centro de tudo, uma espécie de porta-voz e executor, terreno, da divina sabedoria universal – de onde se ter passado a usar o termo «antropocentrismo» para catalogar essa atitude mental e cultural. Que ainda se acha presente no contemporâneo filósofo alemão Hegel, por exemplo, ao este argumentar que o processo natural se destinava a suster o processo histórico (...humano!), o qual, decorrendo então no palco natural (isto é: na Natureza), tinha por finalidade específica realizar o Espírito Absoluto, que em Hegel é o mesmo que Deus (Deus ali enquanto Razão Universal).

A Natureza seria aí uma espécie de corpo e a História seria o espírito.

Ou seja: Deus, primeiro como «Espírito Absoluto», inicialmente «Universal Abstrato», depois ia-se realizando na humanidade, isto é: concretizava-se através dela, para por fim e por si só acabar a culminar como «Universal Concreto».

Uma perspetiva da Natureza e da História sem dúvida interessante. Bem sintetizada. E que tem paralelo na atual conceção científica/cosmológica da singularidade primitiva hiperdensa e sua posterior expansão súbita enigmática, com epílogo explosivo (Big Bang) a dar origem a este nosso universo físico tal como o conhecemos.

Mas coitado do Espírito Absoluto, submetido ao despótico fluir temporal... . E para cúmulo: dependente da relativíssima humanidade para que se conseguisse concretizar!!!

Perceba-se, em todas essas assunções, em todas essas posições, a presunção humanista! Já aí... .

Ora: o humanismo sempre foi o caminho mais curto e direto para o materialismo, ao assumir que o elemento humano seja o centro de tudo – o «caminho mais curto e direto», sim, mas somente após, é evidente, o exercício da crença ingénua do Sentido Comum, o qual aceita que o olhar e os ouvidos e os demais Sentidos tragam para dentro de si, como mera informação, o Mundo, fazendo com que o Mundo humanamente perspetivado se transformasse, por fim, simplesmente no Mundo, o único mundo existente.

E o aproveitamento que Karl Marx fez da teoria de Hegel só prova isso. Pois Marx estribou-se precisamente na figura central do processo e seu catalisador: o elemento humano! Daí aos «materialismos histórico e dialético» foi (mais) um (curto) passo. E destes ao cartilhismo ideológico-político marxista do século vinte foi outro passo ainda menor!

Tudo nada mais que humanismos!

É com base no humanismo que a posição oficial, inculcada nas mentes das gentes através das escolas e da comunicação social, desde sempre foi a de admitir nada mais haver no universo físico que fosse habitado além da Terra. Por isso os óvnis ainda são motivo de sorrisos de troça de quem ande sempre com os seus respetivos apontados ao chão (claro: nada poderá ver!). E por isso, também, a santa Inquisição queimou o próprio religioso Giordano Bruno! E dessa forma, a FALSA espiritualidade institucional se revelou altamente materialista! Criminosamente.

Assim é que vemos o transversal humanismo dizer «presente!» ao longo da história humana e a todos os níveis e em todas as instituições. Humanismo esse que constitui, antes de mais alguma coisa, um antropocentrismo. E finalmente: um materialismo.

Ora: o antropocentrismo mais não é do que CARÊNCIA afetiva coletivamente expressa, que faz consolar supor-se PROTEGIDO por uma superpotente, aliás absolutamente potente, divindade, a qual se concretiza no pouco compreensível «Pai» ou «Senhor» da Igreja católica, se se vir a coisa de um ponto de vista estritamente religioso (um criador subsidiário, secundário, falso criador, nunca pode ser apenas pai ou mãe, pois precisa-se aí dos dois termos e então ter-se-á um semicriador a recorrer a outro semicriador, não mais do que dois simples recriadores – ao invés, um supercriador, um criador máximo, um verdadeiro Criador, não é Senhor nem Senhora, ou Pai ou Mãe ou Deus ou Deusa, pois está, sempre e necessariamente, acima de qualquer contingência, por inerência lógica...).

O ser humano é um mimado - e déspota como todo o filho único ao qual não se pôs um travão no devido tempo. Pois se julga ser o centro da Criação, para o qual a divindade tudo criou e tudo colocou à sua disposição. Pelo que, na ótica tradicional humanista, o ser humano não só é o centro de tudo, mas até sendo mais que a própria divindade, uma vez que esta tudo faz para ele, como se ele é que fosse a divindade em termos de veneração.

Até a Inquisição, qual fundamentalismo católico, ao impor a ideia de que a Terra era o centro do Universo e de que o ser humano seria o expoente máximo da Criação, submeteu a divindade, que supostamente venerava, aos ditames da visão humanista.

Por tudo isso, Sartre se disse «humanista». Mas julgando que seria materialista o seu existencialismo.

O ser humano é (ainda!) um quase nada no cômputo geral. Talvez um mero equívoco. Não se sabe bem... .

 

EV,

03-01-2014.