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O Saber e o Raciocínio
O Saber e o Raciocínio

O cientista mais primário julga que aquilo que ele vê seja aquilo que, na sua essência, É realmente dessa maneira. Julga que a sua visão lhe traz a realidade – supondo, assim, que essa mesma realidade se lhe apresente tal e qual ela fosse exatamente. E de igual modo que os homens e as mulheres sem instrução, ele não perde tempo a questionar-se acerca dos seus Sentidos. Faz pura prova de neles! Nesses seus Sentidos confiando cegamente. Até porque, dirá ele, «os outros também sentem de igual maneira àquela pela qual eu próprio sinto». Assim se gerando o «consenso».

Mas o «consenso» poderá nada mais representar do que uma ilusão coletiva. Uma espécie de auto-hipnose generalizada.

O cientista menos primário, esse, continuando a fazer prova de fé nos seus Sentidos, todavia acrescenta-lhes o intelecto: entende que as suas inferências, mesmo sem a comprovação do visível, o podem conduzir à verdade. Contudo esquecendo que essas inferências se fundam, precisamente, naquilo que os seus Sentidos muito primariamente lhe confidenciaram. Que foi assim, aliás, como Carl Sagan procedeu, quando, por exemplo, através de vídeo e em mais uma tentativa sua de popularização científica, deu o seu melhor para ilustrar aquilo que poderia constituir a «quarta dimensão», ignorando que essa história das dimensões nada mais é do que uma leviandade intelectual da ciência oficial terrestre, ademais baseando-se no dado sensorial comum, assim se esquecendo do aviso cartesiano sobre a «possibilidade de ilusão que os nossos Sentidos nos induzem» e dessa maneira acabando por não proceder a um exercício lógico crítico, ou seja: não procedendo a um exercício silogisticamente introspetivo, analítico, depurador, avisado, cético.

O primeiro tipo de cientista elaborou a teoria da relatividade, por exemplo. Não se aventurando em outras conjeturas possivelmente improváveis.

Já o segundo todavia ousa, assim elucubrando e depois efabulando acerca das dimensões geométricas de um hipotético hiperespaço, desse modo o dividindo em 3ª, 4ª e demais dimensões seguintes, tantas, quantas a sua ligeira suposição o admita (não se tratará de «imaginação» o que o leve a admitir tal, mas sim de «suposição», já que ele nem tão pouco possui uma única imagem da 4ª dimensão para poder construir uma teia imaginária). E de pouco vale escorar essas conjeturas na «matemática», que ele entende constituir um instrumento-padrão infalível, outra vez esquecido do aviso filosófico, agora nietzschiano, que nos recorda que toda a esquemática intelectual, uma vez procedendo a partir de axiomas e postulados que o próprio ser humano formula como pontos de partida do seu raciocínio, sempre acaba por constituir um saber tautológico, conveniente, viciado, perfeitamente antropomórfico. Pois acontece que àquela suposição imaginativa lhe falta tudo: desde a imagem elementar, que a estruturasse como faculdade de integração fenoménica, à própria conclusão silogística, portanto não passando de um idiota exercício intelectual pseudocientífico a postulação da Realidade Holofísica segundo camadas dimensionais, se concêntricas ou se divergentes pouco importa. É que não basta traçar eixos dimensionais sobre uma página de folha de papel para concluir que ela tenha duas dimensões, mesmo porque, para por nós ser percecionada justamente como «página de folha», ela já possui o relevo, possui a profundidade, que o estulto exercício geométrico lhe retira, o qual se esquece que extrapola, do plano intelectual meramente supositório, para uma superfície que é tudo, menos plana, além de pretender dar três dimensões à realidade física em que nos movemos e porém ignorando a dinâmica da mesma e a consequente fluição dela, olvidando que pelo centro da Terra se pode fazer passar tantos eixos dimensionais, quanta a paciência do geómetra o permita permanecer nesse esgotante afazer delineador.

Por outra parte e quanto ao filósofo, este apenas sabe que tudo aquilo que ele veja será, tão somente, aquilo que ele vê e nada mais do que isso, portanto não correspondendo necessariamente à verdadeira realidade. Mais sabendo que a sua visão até pode coincidir com a verdade e assim lhe trazendo essa verdadeira realidade, uma vez que não deve menosprezar toda e qualquer possibilidade. Porém sabe, igualmente, que a Verdade só se alcança por exercício intelectual puro, ou seja: por abstração, nunca por inferências primariamente baseadas no ilusório dado sensorial. E que essa mesma abstração resulta de um generoso esforço, o qual é de tipologia intelectual e não física (ou seja: é puramente intelectual, não intuitivo). Por isso não se resumindo à preguiça da Sensação, a qual aceita candidamente o mundo sem pestanejar, assim nunca duvidando da sua apresentação.

Eis, então, a grande diferença entre o cientista e o filósofo: um, o cientista, candidamente crê (de uma forma até muito mais reprovável do que a mulher e o homem sem instrução nem lucidez, pois estes não têm obrigação de exercer convenientemente o seu raciocínio, o qual se funda em vícios concetuais, em preconceitos e em lugares-comuns de toda a ordem); o outro, o filósofo, raciocina circunspetamente, dubitativamente. De maneira incansável, em busca da verdade maior. Ou seja: este, sim, age... cientificamente!

Novembro 2019.