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Lições de Filosofia – III
Lições de Filosofia – III

             A Dúvida Cartesiana e a Atitude (Filosófica) Positiva – III

                          III – A Dúvida Cartesiana (Metodológica)

 

Descartes construiu a sua filosofia, que pretendia tornar-se o discurso sobre a Verdade, a partir do exercício da dúvida. Em busca de uma CERTEZA irrecusável, que pudesse tornar-se uma verdade inegável.

E essa certeza seria, então, o ponto de partida para a refundação do conhecimento humano.

Como tal exercício obedecia a um esquema previamente delineado, ficou conhecido como o procedimento da dúvida metódica (o uso do adjetivo feminino «metódica» é todavia incorreto, dado que tal adjetivo significa que algo ou alguém tenha ou utilize método e será mais aplicável no contexto seguinte: a Maria é metódica; o correto será utilizar-se o adjetivo metodológica, pois tal exercício da dúvida submete-se a uma metodologia).

Pela dúvida Descartes punha em causa a existência de tudo.

Primeiramente, a existência do Mundo, pois, como ele argumentava, «os seus Sentidos podiam estar a enganá-lo».

Até mesmo a sua própria existência poderia ser colocada por fim em causa.

Assim, não apenas tudo aquilo que fosse sensível, mas também o que se pudesse tornar conceitualizável, seriam motivo para duvidar. Dado poder acontecer não passarem de suposições, de ilusões, acerca da realidade.

Tal metodologia obedece a um processo de negações, uma vez que, a cada afirmação que temos como certa, lhe sucede a negação, já que, para se duvidar de algo, temos de negar esse algo antes de tudo o mais.

E a negação a que Descartes inicialmente procedia afinal não se tratava senão da negação daquilo que mais não é do que um saber de Sentido Comum, que é aquele precário e suposto saber que afirma a realidade sem a questionar minimamente, satisfazendo-se, de maneira muito ingénua, com a perceção da realidade, sem pôr em causa a veracidade dessa perceção, nem sequer perguntando se a perceção é mesmo real ou apenas uma ilusão, pois o Sentido Comum parte de dois singelos princípios:

1) O da fiabilidade dos Sentidos que todos os dias e de todas as vezes percebe as coisas de uma mesma maneira, assim tendendo a tornar esse hábito em pura realidade;

2) O do consenso, que nos leva a supor ser real tudo aquilo que todos os outros também veem ou ouvem de maneira aparentemente idêntica à nossa.

E de circuito argumentativo em circuito argumentativo Descartes foi, até chegar a uma evidência irrefutável:

– Posso duvidar de tudo, negando a sua aparente existência (aparente, porquanto são os meus Sentidos que percebem a realidade dessa existência e não a existência a existir por si própria, independentemente de eu a perceber existente);

Porém não consigo duvidar de um facto: o facto de simplesmente duvidar!

Então o ato de duvidar, de exercer essa dúvida, por si só se tornava motivo para ser erigido como um princípio irrecusável e portanto se poder assim tornar ponto-de-partida para garantir a realidade de toda uma existência.

Ora: e que entidade é que seja capaz do ato de duvidar?

É precisamente o pensamento.

E se o pensamento se apercebe de uma existência, então é razão suficiente para essa existência ser real e não constituir um mero engodo ou um puro engano perpetrado pelos nossos Sentidos.

Então o Mundo existe – eis a primeira atitude positiva científica, determinada por um procedimento metodológico dubitativo no âmbito filosófico.

Que de facto nada acrescentou ao Mundo comparada à atitude positiva acrítica do Sentido Comum. Apenas dela se distinguindo por efetivamente ter obedecido a um método, enquanto o Sentido Comum aceita as realidades «porque sim», nada pondo em causa, nada questionando, de nada duvidando, assim partindo de um conjunto de CRENÇAS que o levam a considerar o Mundo como sendo algo «real» porque vê e ouve e apalpa esse mesmo Mundo.

Ora: de uma CRENÇA nunca sai um SABER, mas simplesmente um conjunto de preceitos que regulam religiões ou meras mitologias!!

E estas estão longe de poderem produzir um discurso acerca da Verdade, já que tal só será possível por parte de uma VERDADEIRA ciência! E a (verdadeira) ciência não pode basear-se em crenças e tornar-se, por isso, uma prova de .

(...)