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A Ilusão Material E O Segredo Da Existência
A Ilusão Material E O Segredo Da Existência

                                                              A Ilusão Material E O Segredo Da Existência

Há muito anos conhecêramos um sujeito quase cego, já mesmo invisual monocular (para o drama parecer mais nobre afirmava-se ex-sargento do exército e que tudo se devera a um exercício militar, mas algumas línguas mais afiadas diziam que aquilo havia-lhe acontecido na Adega Cooperativa de Dois Portos...).

Certa vez, ao voltarmos juntos, pela noite, para as respetivas casas e falando-se acerca da Natureza e da vida, disse: «isto é uma ilusão; um tipo anda aqui uns anos e depois tudo acaba...».

Quem dera que toda a gente chegasse a uma tal conclusão tão simples quanto verdadeira, embora ambiguamente interpretável (uns, os materialistas, despir-se-iam então de toda a moralidade para «aproveitarem a vida ao máximo»; outros, crentes numa continuação da existência, ainda que sob outra forma, relegariam para um segundo plano a importância que o mundo e a vida assumam, pois esta realidade seria apenas ilusória).

De facto a realidade física não é verdadeiramente real, porque é transitória. Por fim virará ruína, mero vestígio, qual negativo do que fora antes.

Só aquilo que seja sempre e seja sempre inalterável é que poderá verdadeiramente ser.

Muitos que experimentam a morte aparente posteriormente narram «ter visto o seu corpo abaixo e, sem embargo disso, vendo e ouvindo tudo em redor». O que a investigação científica comprovou no que diga respeito a alguns testemunhos credíveis e mais intensamente narrados, porquanto assim experimentados.

Só que, quando pretendem interagir, apesar de ouvirem e verem, todavia ninguém os vê ou escuta e trespassam todos os objetos.

Afinal a sua posição, naquela circunstância anómala, é a de simples espetadores: o que presenciam contudo adquire a realidade de um mero filme. Estão ali, conscientes (!) – e no entanto fora dos respetivos corpos (!). A fazer lembrar Roland Barthes: «o mundo está cheio sem mim: aprende a viver por trás de um vidro; o mundo está num aquário: vejo-o perto e contudo afastado, como se fosse feito de uma outra substância» (Fragmentos de um Discurso Amoroso).

Detêm a realidade da perceção – mas não a realidade da interação. Veem e ouvem, mas não conseguem tocar, porque trespassam as coisas. Como nas miragens (!).

E a eles ninguém os vê ou escuta.

A realidade natural física, para uma consciência assim desincorporada, torna-se, pois, uma ilusão parcial. Uma espécie de filme. E todas as cenas materiais detêm ali a simples realidade da ilusão. Uma aparência, portanto.

Essa unidade invisível, todavia capaz de sair de si e de observar um corpo que sabe ser o seu, escutando e ouvindo tudo em volta, não pode tratar-se de uma quimera vã na equação existencial. E torna-se, para qualquer analista isento e sagaz, um indício de uma secção da realidade existencial no seu todo considerada – que misteriosamente não percecionamos e nos escapa por inteiro à compreensão.

Atitude honesta (porquanto isenta!) assumiu-a Robert Spetzler, neurocirurgião norte-americano protagonista de um caso clínico célebre, após ter confirmado todos os pormenores do episódio aos quais uma paciente não poderia ter acesso pelas vias comuns: «não sei explicar como isso possa acontecer».

A existência experimentada no segmento físico do palco natural não representa mais do que um encadeado de cenas. Que adquire um sentido mais real quando percorrido intestinamente por uma consciência... incorporada.

E o enigma por decifrar residirá, então, na impossibilidade de uns verem e ouvirem e de outros conseguirem tocar.

[Texto contendo excertos de «Bloco Crítico de Notas Sobre Experiências de Consciência em Quadro Clínico de Morte Aparente», baseado em tradução pessoal de «Consciousness Beyond Life», de Pim van Lommel]

 

5-1-2014.