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A Teologia Do Padre Mário
A Teologia Do Padre Mário

O padre português Mário Pais de Oliveira afirmou, há já algum tempo, em circuito televisivo, depois difundido no You Tube da Internet, que «as chamadas aparições de Fátima nunca existiram» por serem «objetivamente impossíveis». A menos que «a teologia seja uma batata». E que Bento XVI, como bom teólogo que é, portanto não deveria oficialmente pactuar com tal assunção.

Particularmente não sabemos qual a teologia professada pelo padre Mário de Oliveira. Mas estamos certos de que a teologia em geral tematicamente aborda a questão em torno da suma essência da Existência, considerada esta na sua generalidade.

E essa suprema «essência» sintetiza-se na Consciência Absoluta, a que outros muito tradicionalmente chamam «Deus» (termo cujo uso evitamos, por se considerar deter conotações demasiado históricas e historiográficas, ou o radical «teo» não estivesse presente nas extintas Línguas ameríndias do México, assim como no grego clássico através de «Zeus» e no latim da Roma antiga com precisamente «Deus»).

Por inerência lógica da terminologia, uma Consciência Absoluta é também um absoluto de Ser. Isto é: ela constitui uma totalidade de Ser: é completamente Ser, culminando o edifício ontológico.

E o Absoluto ontológico é onipotente, ou seja: ele TUDO pode.

E como «tudo pode», as aparições marianas não seriam «objetivamente impossíveis» se viessem desse Absoluto. Pois a este não lhe é impossível assomar-se como relativo à janela da relatividade: seria apenas mais uma ilusão num oceano de ilusões (ilusão da qual é exemplo o universo natural físico na sua generalidade).

Acontece, sendo esse o problema fulcral do assunto, que a objetividade do padre Oliveira diz respeito ao dado material da questão. Quer dizer: para ele só se pode tornar «objetivo» tudo aquilo que pertença à realidade do mundo visível, palpável. A este denominando-o os humanos, também, «Natureza» ou «Universo».

Por isso esse mundo se constitui, de modo implícito, como um produto SENSORIAL. Humanamente sensorial.

«Objetivo» é tudo aquilo que vemos e tocamos, assim detendo «materialidade», entende-se. Incorretamente, mas é assim que é entendido.

Porém o dado sensível, isto é: o elemento sensorial, não pode satisfazer CABALMENTE os requisitos de objetividade, porquanto esse elemento sensível (ou sensorial), que é aquele que seja percebido pelos Sentidos (tato, visão, et cetera), parece ser, mas de facto já não é mais no instante seguinte a ter-se dito dele que ele é(ra).

Para que «aquela casa» SEJA, é necessário que ela seja agora e no agora que imediatamente posceda o agora anterior.

Não são percebidas diferenças relevantes de um agora para outro e é por tal que parece que a dita casa permaneça constante nessa curta ponte temporal. Todavia e ao cabo de muitos agoras, verificar-se-ia que ela afinal havia MUDADO efetivamente e já não era mais a mesma de outrora: a pintura desbotara; o estuque caíra nalguns pontos; as telhas partiram-se e impôs-se substituí-las... . E mais: os aquis nos quais se produziu a afirmação dos agoras relativamente à casa variaram de instante para instante, pois a Terra, ou outra circunstante estrutura natural que fosse, gravita o Sol e este orbita a Galáxia, et cetera, etc. Por isso os lugares, quaisquer que eles sejam, não estão parados! Pelo menos em relação uns aos outros, que assim porém já não acontece se os considerarmos em termos absolutos (...).

Ora: o que MUDE não pode ser o que SEJA, mas apenas o que PAREÇA ser! Porque aquilo que É sê-lo-á SEMPRE – e sempre IGUAL, imutável, permanente. Sendo que «o que É» não seja mais do que a Verdade, quer dizer: é a essência. Enquanto aquilo que apenas PAREÇA ser constitui a mera aparência, esse contraste da Verdade. Daí se dizer que a divindade É, porque não cambia em absoluto.

Se algo variar num só aspeto constitutivo, então já não será EXATAMENTE o mesmo! Será QUASE o mesmo, mas não o mesmo. Caindo, então, no domínio da mera aparência.

Assim, como pode o padre Mário de Oliveira garantir que as aparições marianas fossem «objetivamente impossíveis»?

Entendemos, sendo essa uma assunção pessoal não genuína, mas que partilhamos em razão do seu caráter muito plausível, lógico, que as «aparições marianas de Fátima» não foram «marianas», antes incidindo no domínio da ufologia e tendo portanto a ver com essa realidade aparentemente também fantástica – porém material e não de um eventual foro transcendente.

O padre Oliveira esqueceu, assim, que a (VERDADEIRA) objetividade não é mundana, PORQUE a mundanidade é uma ILUSÃO e o que seja (verdadeiramente) objetivo não pode sê-lo agora e depois já não ser mais objetivo, pois tratar-se-ia aí de uma objetividade ilusória, ou seja: uma FALSA objetividade!! Dado a mundanidade fluir ininterru(p)tamente e dessa forma existir enquanto passagem constante ou permanente, além de o mesmo padre ter igualmente esquecido o facto de a Consciência Absoluta, ou até o simples plano espiritual, não precisarem de bater à porta para entrar, porque o Absoluto TUDO PODE - e a classe espiritual, uma vez existindo, pelo menos deter livre-trânsito na circulação transversal pelos múltiplos planos existenciais, seja lá o que ela for. Embora não se possa ficar à espera que se venham sentar às mesas humanas, vestidos de fato e gravata e com 80 quilos de peso corporal, para dizer, finalmente, que «o jantar estava ótimo».

Abatatada será a teologia que se renda à ciência empirista, pretensamente positiva, mecanicamente explicativa e materialista no pior sentido do termo (que é o seu sentido mais rudimentar), fazendo supor que o divino e o espiritual não tenham objetividade por serem não sensíveis (isto é: não tangíveis, invisíveis, inaudíveis...), além de, por esse facto, não PODEREM irromper no domínio material de uma maneira sensível, o que, a acontecer e a terem assim os cientistas materialistas razão, aliás retiraria ao divino a sua onipotencialidade – e por conseguinte subtraindo, à divindade, a sua condição divina.

Tinham e têm obrigação de algo mais os entendimentos idênticos aos do padre Mário Pais de Oliveira, que aqui para nós é por nós chumbado no seu exame de Teologia, além de obter nota negativa na (fundamental para a questão teológica) disciplina de Ontologia. E que estude mais para conseguir aprovação em Epistemologia e na Lógica.

A aparência não é "aquilo que seja": ela não é o SER – nem tão-pouco é o que parece.

Ela simplesmente não é.

Apenas parece que é. Porque se vê, se toca... .

Mas o que verdadeiramente seja, é a essência. Que não se vê – nem toca ou cheira. Mas que É. E que, quanto a nós, é representada pelo nosso «ser»: ela é representada por aquilo que em nós é indestrutível e esconso: os nossos sentimentos; a nossa consciência... moral (os que a tenham...). A qual é... espírito – essa realidade invisível, inaudível, sem perfume e intangível – – mas que todavia confere o sentido a todas as demais realidades, pois é ela que toma ou tem consciência; e assim se torna ela verdadeiramente... objetiva. A única objetiva. ...Na sua pura subjetividade. Pois a única objetividade, a verdadeira objetividade, é aquela que for absolutamente subjetiva! Dado que nunca flui – nem passa. A única objetividade, por ser a verdadeira, é a pura subjetividade. Que só um absoluto efetivamente realiza.

E o absoluto não é material, tal como esta apresentação cibernauta é, nem a mesa em que se apoie o computador, porque a materialidade é relativa (!).

E o relativo é o que seja aparentemente objetivo – mas que não é objetivo de verdade, porque passa e logo a seguir deixa de ser o objetivo que era! Ainda que somente passe de vez trinta mil biliões de anos depois! Mas sempre acaba passando, por fim.

Então se o absoluto não é aparentemente objetivo, ele não pode ser material, por isso tendo de ser outra coisa.

E essa «outra coisa» é a subjetividade – mas puramente subjetiva, porquanto se trata aí de um absoluto.

Assim a subjetividade absoluta é que se vem a tornar, ou melhor: ela é que é verdadeiramente, a real objetividade!

Uma consciência qualquer, perdendo o corpo, mas mantendo a consciência de si, torna-se pura – ou seja: ela passa a ser uma verdadeira consciência, livre da ilusão material (aparentemente objetiva) e subtraída aos condicionalismos da relação (espaço-tempo).

Talvez isso represente a morte. E assim, quando morrêssemos, acordaríamos novamente para o absoluto – o divino.

Sê-lo-íamos (absolutos, divinos), porque perdêramos o corpo, isto é: prescindíramos do ilusoriamente objetivo. Ficando de posse do que seja apenas essencial: a objetividade verdadeira, que não se vê nem ouve ou toca: a unidade da nossa autoconsciência, que se encontra adormecida, esquecida, em relação ao conhecimento acerca da sua verdadeira condição, quando acoplada a um composto de compostos de compostos..., que o corpo se limita a ser.

A divindade não é infinita, nem é «o Infinito» – essa abstração matemática sem nexo.

A divindade é una, uma! Sempre a mesma. Um absoluto de consciência.

Os corpos? Aparentes centelhas, participantes no Absoluto. Falsas unidades, no seio de uma suposta multiplicidade, como se cada um correspondesse a um neurónio do divino.

O divino? Uma multiplicação – não dos pães, mas da consciência absoluta! Porque tudo PODE.

Quando se busque, na paixão de alguém, ou na amizade de um filho, ou na solidariedade de uma pessoa amiga, o Amor, essa categoria suprema de uma harmonia absoluta (até mesmo no sentido musical do termo, enquanto música divina, da qual Léo Ferré escreveu nunca alguém havê-la escutado nem existir pauta que lhe servisse: «a música maior ninguém a lerá, jamais alguém a escutará», como escreveu), depois desiludindo-se nessa busca, como Friedrich Nietzsche («buscar amor e só encontrar máscaras, as malditas máscaras – e ter de quebrá-las!»), então chora-se, talvez; e quando se chore, é o divino que chora ali; e quando se se angustie, é o divino que se angustia aí; e quando se se alegre, é porque «há em mim um deus que dança», para continuar a citar Nietzsche.

O divino?

É uma consciência invisível. Como toda a consciência!! De valor absoluto. Tão fundamental para a Natureza e para a Existência, quanto a nossa consciência pessoal se revele fundamental para o nosso corpo: pois é ela que toma conhecimento do corpo enquanto corpo e de TODAS as perceções do corpo e precisamente se percebe, antes de tudo o mais, como (auto)consciência que é (e que é condição de toda a heteroconsciência, ou seja: é condição de consciência acerca de uma exterioridade).

Qual é a angústia divina? A luta divina?

Conseguir transformar essas centelhas de consciência em absolutos que se tornem absolutos de novas relatividades. Pois o criador maior, o verdadeiro Criador, não cria a obra simplesmente; ele cria uma obra que se possa tornar criadora de uma nova, não fechando o ciclo, antes o deixando aberto. E além do mais, a verdadeira obra não é aquela que seja já de si absolutamente perfeita: a verdadeira obra é a que seja deixada inacabada e assim livre para o seu acabamento por si própria.

Essa é que será, sempre, a verdadeira Criação: obra de um produtor maior: o máximo escultor – do invisível. O músico do inaudível. E não uma mera peça, um simples produto, daquilo a que os gregos chamavam techné.

Dessa forma se torna possível responder às questões:

– E antes do divino?

Ou então:

– E antes da Grande Explosão originária?

– O divino! Toda a vez o divino. Longe da ilusão da tangibilidade; distante do Sentido passageiro; avesso à crença opinativa.

Somos apenas sonhos. Momentos oníricos. Ilusões. Meras passagens.

Simples ilusões... da Verdadeira realidade.

 

A teologia será «uma batata», sempre que se basear na couve da ciência.

 

EV,

24 de dezembro de 2013/14-01-2014.