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Língua
Língua

Sou angolano, porque nasci e cresci em Angola. Até ser homem. De ascendência ibérica e cultura maioritariamente ocidental, é certo. Mas angolano. Porque a minha forma originária de funcionar é angolana: franca; espontânea (com tantos anos de Portugal, fui perdendo a espontaneidade!); comunicativa; alegre.

Entendo que o que sucedeu a Angola (...) e os caminhos que seguiu (...) introduziram ali vícios enormes e talvez irreparáveis. E que tristeza dá constatar isso!

Existem, em Angola, duas falas indígenas maioritárias: o quimbundo e o umbundo, respetivamente a norte e a sul. E outras formas menos abrangentes e talvez por isso apenas dialetais.

A partir da primeira grande guerra do século vinte e sobretudo após a 2ª deu-se o desenvolvimento económico. Interrompido com a guerra civil após 1975.

Foi então que a Língua portuguesa ganhou expressão e se impôs progressivamente. E hoje, em virtude da diversidade de falas autóctones, que sempre impediria consensos para o estabelecimento de uma delas como Língua nacional oficial, a Língua portuguesa em Angola tornou-se efetivamente oficial, como elo aglutinador nacional. Tal como o latim deu origem ao português, entre outras Línguas neolatinas, também o português dará origem a uma futura fala angolana dele derivada. E assim como somente as classes mais importantes (influentes e poderosas, entenda-se), nos reinos visigóticos ibéricos aí instituídos após o desmembramento do império romano, falavam latim e o fizeram evoluir para o português, o francês, o castelhano ou o catalão, o sardo ou o romeno, et cetera, etc, adulterando-se regionalmente por força da popularização, também acontecerá o mesmo ao português nos ex-territórios coloniais portugueses. Menos acentuadamente em Angola, onde se fala bastante generalizadamente e bem.

Estudei quase até final do ensino secundário em Angola – interrompi os estudos durante 6 anos, mas de facto só ao fim de 10 é que completei o secundário, pois me faltava motivação. Que continuou a faltar. Mas o traquejo relativamente à vida era já outro e a força de vontade finalmente prevaleceu. E todos esses estudos foram feitos em Língua portuguesa. Portanto essa Língua foi a chamada «materna». Mas não imperiosa. Porque, mesmo sem estudá-lo jamais, falo fluentemente o espanhol (castelhano). No ensino secundário também aprendi o francês, Língua que pouco usei, mas que não esqueci, até porque a matriz latina é a mesma e as bases, suficientes, me permitem sempre poder tirar o sentido quando as dificuldades surjam. Dei por mim a falar francês em Perpignan em agosto passado, para minha própria surpresa... . A necessidade aguça o engenho. Mas também aquelas bases e sobretudo um sentido musical dão-me o à-vontade para assimilar Línguas e culturas. Quanto ao inglês, igualmente o aprendi na escola e possuo um domínio gramatical perfeito, apenas maculado por alguma falta de vocabulário, por esquecimento, ou mesmo ignorância.

Posso utilizar qualquer das 4 Línguas. Mas o discurso sai mais facilmente em português, pois tenho estado em Portugal, depois de Angola.

Não tenho complexos. Nem pretensiosismos relativamente ao inglês, que entendo que se tenha universalizado porquanto os EUA ganharam a 2ª grande guerra a oriente, ao Japão, assim como a ocidente, à Alemanha, indo depois impondo progressivamente a sua visão do mundo e a sua cultura a todo o globo, junto com o sistema político (desgraçada da sociedade que não queira adotar o sistema representativo pluripartidário com assento parlamentar e eleições cíclicas, a que inadequadamente chamam «democracia»...). O inglês igualmente se impôs pela sua simplicidade. Logo a seguir à guerra era o francês a Língua da diplomacia, sobretudo nos corredores da ONU, ficando para o inglês a área comercial. Mas depressa o cenário mudou e o inglês sobrepôs-se. Os EUA encarregaram-se de desmembrar a União Soviética tarde demais, justo quando eles próprios iniciavam a sua decadência (os EUA são um enorme titanic a afundar e não basta ter um exército poderoso para suster uma economia moribunda, fundada em contradições e sobretudo em megalomanias, tal como sucedeu ao império romano... – indo atrás quem não entender isso...).

Não sou nenhum aculturado. Assimilo culturas. Por escolha.

A Língua é apenas uma ferramenta.

O inglês é filosoficamente (muito) pobre. Certamente por os anglófonos em geral serem demasiado simplificadores, simplistas, empiristas, pragmáticos. Pobre demais para o discurso filosófico. Ao contrário do alemão, do português, do espanhol e das demais Línguas novilatinas, talvez do russo, que desconheço... .

O futuro não falará necessariamente inglês. A sua influência já se começa a perder.

O futuro é da China – mas sobretudo da Rússia pós-Putin, em termos mais imediatos.

Não estou especialmente empenhado em aderir, com pretenso snobismo, ao uso do inglês. Esse não é o futuro. Tão-só este presente já com muito cheiro a passado. Percebi-o muito claramente nas minhas (breves) passagens por Inglaterra neste 2013. Numa sociedade em ruturas perigosas – e a deixar-se levar com o titanic para o fundo... . Bom afundamento, então.

 

20-12-2013