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O Espaço, a Natureza e a Ciência
O Espaço, a Natureza e a Ciência

O espaço não pré-existe aos acontecimentos naturais de ordem física, portanto ao contrário do que o admite categoricamente o Sentido Comum, ou seja: ao invés do que o entende a aparente experiência que temos do mundo.

Isso mesmo o percebeu a cosmologia contemporânea, ao sustentar que antes da súbita expansão inicial do universo físico, que por sua vez precedeu a Grande Explosão originária, não havia espaço (como também não havia tempo), tão-só uma inconcebível união de tudo aquilo que existe (atualmente, antes e existirá depois, tudo reunido de uma forma sumamente densa, concentrada). Assim vindo ao encontro do que argumentamos – por mero exercício de abstração do raciocínio, para isso despojando-nos do (a)condicionamento sensorial de que sempre somos vítimas intelectuais.

E o que o empirismo das escolas britânicas do pensamento humano sustenta e valida não é mais do que precisamente essa nossa corriqueira experiência do mundo. Uma experiência sensorial – e por isso ilusória (pois além de o mundo estar sempre a passar e já não ser o mesmo no instante seguinte, sendo por isso uma ilusão, os nossos Sentidos não trazem, para dentro de nós, esse mundo, antes o dando a conhecer tal como eles percebem o mundo e não como este seja em si mesmo, já o havia observado Kant no século dezoito – a angústia existencial que muitos casais experimentam, após o coito, deve-se ao facto de, apesar do envolvimento sexual mútuo, todavia nenhum dos dois assimilar completamente o outro, talvez sendo por isso que o louva-a-deus fêmea devore o macho após o intercurso, para ter a ilusão de o possuir...).

E a ciência vigente não é senão uma elaboração intelectual baseada num empirismo que por sua vez se fundamentou no Sentido Comum, acreditando que a nossa maneira de percecionar as coisas nos traga a Natureza tal como ela seja, ignorando a chamada de atenção daquele filósofo alemão, porque parte do princípio de que a filosofia já nada seja e nada mais tenha a acrescentar ou para ensinar, justamente por ignorar o que seja a filosofia e qual o seu papel na história de uma civilização qualquer, seja aqui ou em Andrómeda (sem uma filosofia da ciência não haveria ciência; sem filosofia do Direito não haveria Direito e por aí adiante, tal como um exército, sem um comando, não ataca ou defende – et cetera, etc).

E o Sentido Comum o que seja, senão pura crença, acriticamente baseada no que o ouvido ouve, o olho vê e a mão toca?!!

O espaço, em si mesmo, não existe: ele não pré-existe enquanto entidade-condição; não constitui a condição para o acontecer universal (geral).

O espaço representa, antes, uma consequência, um resultado, das relações entre realidades, elas sim, prévia e necessariamente existentes. E as realidades naturais, que sempre se mostram como compostos de partes e por isso nada mais sendo do que conjuntos provenientes de relações, não devem a sua existência corporal ao espaço que parece que ocupem, mas sim às relações entre as partes que por suas vezes as constituem: as denominadas subpartículas compondo átomos; os átomos compondo moléculas; as moléculas compondo células; as células tecidos; os tecidos originando órgãos; os órgãos dando sentido aos organismos; e os organismos acolhendo a consciência, em aparente exclusividade... .

É ao relacionarmo-nos, que criamos espaço. A nossa visão não se torna possível pelo facto de pré-existir um espaço atravessável pelos fotões que venham impressionar os nossos nervos óticos, mas sim porque as nossas consciências representam uma força capaz de dar sentido à nossa experiência do mundo, capaz de conferir coerência ao conjunto das relações que é muito nosso, muito próprio, muito construído – e sem a qual força a nossa consciência acerca do mundo, isto é: a nossa racionalidade, seria um amontoado de dados sem ordem, que é o que acontece ao indivíduo completamente louco: este apresenta não a ausência total da manifestação daquela força, mas sim a incapacidade pessoal em organizar os conteúdos, em lhes dar uma ordem, uma sequência, em regra fruto de distúrbios, que podem ir desde o emocional ou afetivo, ao simplesmente genético ou sensorial (malformações, ou lesões nos órgãos de perceção, et cetera).

Sem uma consciência que sequer o concebesse, o corpo jamais seria capaz de entender o que quer que fosse. Os olhos não veriam, nem os ouvidos escutariam. Por isso é que a consciência é, em essência (ou na sua base), uma força que possibilita... o conhecimento. Emergindo das profundezas ultramicroscópicas do organismo. E possibilitando o conhecimento, ela torna-se razão de ser das próprias coisas, pois sem ela as coisas nunca saberiam que existiam, nem nada haveria que soubesse da existência dessas mesmas coisas.

O espaço entre a Terra e o Sol existe, porque a Terra e o Sol se encontram relacionados de um modo muito particular e não porque pré-exista à Terra e ao Sol para que eles se relacionassem. O mesmo sucedendo a todas as parcelas que compõem o Sol e a Terra, para que justamente sejam o Sol e a Terra que são.

Nós construímos o mundo fundados em equívocos de perceção, que constituem vícios sensoriais inculcados nas nossas mentes como verdades, por força do hábito em os experimentarmos. E persistindo no erro, apenas avolumamos a ignorância, desenvolvendo um saber fundado nisso, isto é: criando uma ciência baseada nesse equívoco geral.

Quando lembramos qualquer coisa ocorrida no passado, o que vem logo à memória é apenas um cenário.

Não é espaço o que se apresenta nas nossas invocações memoriais, nas nossas lembranças, mas sim cenários, ou seja: conjuntos de relações temporalmente circunscritos: o cenário não é mais do que uma coleção de aparentes unidades, perfazendo um oceano de relações por nós estabelecido entre elas.

Lembramos uma mesa, talvez; também cadeiras; paredes; um candelabro; quiçá um espelho enorme; pessoas brindando. E "aquela determinada sala" da nossa antiga moradia fica assim rememorada... .

O cenário porém pode variar de uma invocação para outra. Porque houve uma alteração no estabelecimento das relações.

O espaço não está lá, pois é tudo uma memória. E o tempo surgiria então aí como entidade com sentido, dando seguimento de um cenário para outro. Todavia e uma vez mais, igualmente depende do modo de relação que faz com que distingamos as memórias umas das outras e lhes confiramos encadeado lógico.

Foi por isso que Kant concluiu que, «não pondo em causa a objetividade dos dois» (ele era professor universitário e não poderia hipotecar uma carreira com posições arriscadas, como era a da tese de espaço e tempo não existirem objetivamente, isto é: fora de nós), os dois (espaço e tempo) todavia representariam, em essência, modos de perceção: formas de enquadramento da nossa experiência acerca do mundo, rebatendo a tese empirista que, por inerência, admite a objetividade pura e radicalmente exterior das coisas, independentemente de uma consciência que tome conhecimento delas (como já assinalámos, coisa que não se conheça a si própria minimamente, nem seja conhecida por uma consciência exterior a ela, simplesmente não existe como coisa, uma vez que nada haveria para afirmar a sua existência e esta volver-se-ia facto nulo e absolutamente ignorado, a menos que queiramos admitir que faça sentido existir uma Natureza cem por cento ignorante a emergir alguma vez do Nada absoluto e depois ir adquirindo consciência, de maneira muito lenta e progressiva, através de ínfimas parcelas suas, das quais nós, humanos, somos exemplos, assim adquirindo essa consciência não se sabe como nem por quê – tal seria a suprema perplexidade: a consciência provir da inconsciência e a Natureza ter sido gerada a partir do Nada, que é o que afinal sustenta a ciência empírica do pensamento que se expressa em inglês, fundada no empirismo britânico dos séculos dezassete e dezoito e no pragmatismo norte-americano da contemporaneidade, impondo-se ao mundo terrestre como discurso acerca da Verdade e Sabedoria ultimada; e os colonizados culturais aceitam pacífica e passivamente essa visão do mundo por toda a parte da Terra, batendo palmas e ensinando tais patranhas às suas pobres criancinhas em idade escolar!).

Essa visão é rudimentar e acrítica, pois aceita sem pestanejar a afirmação que não interrogou. Iludida de que o momentâneo fluxo natural corresponda à Verdade da Existência.

Por isso são mais profundas as escolas alemãs do pensamento, a moderna e a contemporânea, fundadas na grega clássica, ao contrário das anglófonas primeiramente britânica (modernidade europeia) e posteriormente norte-americana (contemporaneidade), que seguiram o senso prático-pragmático dos Romanos.

A estes não os ocupava a filosofia, mas sim a estratégia militar de conquista territorial e a engenharia de pontes sempre em função dessa estratégia, para facilitar o avanço das tropas, o domínio territorial subsequente e uma sua posterior administração eficaz. Tudo em função do predomínio, o qual traz vantagens MATERIAIS a quem dele ussufrua... .

A preocupação romana não foi a grega pela cultura e pelo espírito, mas sim uma preocupação pelo Poder e pelo domínio sobre os outros, que o Poder permite.

Os romanos eram essencialmente práticos e não perdiam tempo com metafísicas. Apenas lhes interessava o Direito, para assim enquadrarem, numa pretensa legalidade, que era a legalidade DELES, as relações interssociais gerais. Tudo isso, em função da sua lógica de conquista e, doravante, da prevalência de ordem territorial.

Por isso foi a cultura inglesa tão cultivadora da Roma imperial (veja-se a magistral série televisiva «I Claudius» e perceba-se tal) e do seu sentido prático iminentemente pragmático, ou a quase obsessão da cinematografia norte-americana dos anos cinquenta e sessenta do século anterior pelos mesmos romanos, enquanto podemos ver os germânicos intimamente afetos ao profuso e sempre profundo pensamento grego da antiguidade clássica europeia, virado para as grandes questões essencialmente filosóficas da ontologia (esta trata do que é que verdadeiramente seja e onde é que esteja a verdadeira realidade das coisas, questões a que Heidegger tentou responder) e da epistemologia (trata da relação entre o sujeito, que conhece, e o objeto, que é conhecido; Kant debruçou-se sobre o tema).

Ao empirismo e ao pragmatismo nada disso interessa: enquanto atitudes (pretensamente filosóficas) de caráter claramente positivo, aceitam a realidade tal como ela parece que seja, fazendo disso uma autêntica crença – e daí partem para a construção de uma realidade cultural que assim é erigida sobre um monte de equívocos, porque só um estúpido não percebe que a verdadeira realidade não pode encontrar-se numa coisa que esteja em perpétua mudança, como é o caso da Natureza, mas sim residirá naquilo que permaneça – e permaneça imutavelmente!

Ora: o que permanece imutavelmente só poderá ser um absoluto. E o absoluto não o encontramos na Natureza tal como a percebemos.

Então deveremos procurar noutra instância essa permanente imutabilidade.

E assim compreendemos que a teologia faz sentido, indo além da filosofia pelo menos na aceitação de um absoluto totalmente desconhecido para nós e imperscrutável.

Só a ciência empirista se satisfaz com as suas semiverdades e os seus equívocos candidamente ignorantes, porque parte da crença de que a realidade seja (somente) esta e que o seja da forma como a percebemos, como se porventura fossemos os deuses que a tivessem criado e dela usufruíssem.

Então faz todo o sentido os relatos daqueles que experimentem episódios vivenciais sob estádios de consciência ocorridos em quadro clínico de morte aparente, não por relatarem «túneis» ou «luzes», mas porque, afirmando-se fora de seus corpos e presenciando os cenários envolventes, factos que depois são provados por investigações sérias, tocam nas coisas e contudo trespassam-nas, como se elas realmente não existissem e não fossem mais do que miragens; percorrem as distâncias, sem porém se deslocarem, saltando de cenário em cenário como se esta realidade fosse isso mesmo: uma simples sucessão de cenários, isto é: uma sequência de relações circunstancialmente estabelecidas e logo a seguir desfeitas, o tal «caminho perpetuamente destruído e continuado» de Marguerite Yourcenar, só assumindo a aparência de coisa concreta quando vivido desde dentro e não observado de fora.

A realidade física que experimentamos não é mais do que uma experiência de consciência – tal como o sonho, a miragem, as alucinações... .

Essa realidade não é senão projeção, feita a partir de um estádio de existência metaquântico, no qual o quantum geral se modifica radicalmente e toda a relação que aqui conhecemos e todo o modo de perceção que aqui exercemos perde o sentido que aqui parece ter enquanto relação aqui mesmo estabelecida pelo sujeito da perceção.

Não é por haver espaço entre uma mulher e um homem em cópula que o casal gerará um descendente, mas sim pela relação que entre os dois se estabelece. Só assim haverá espaço entre eles, que os torne duas entidades perfeitamente distintas – relacionando-se.

O que faça com que cada um seja reconhecido como entidade que é não é o corpo que o apresenta, esse composto de compostos, relação de relações, e sim aquilo que definitivamente o distinga dos outros e o torne único. E isso não é a apresentação do corpo que o permite: ela é apenas um cartão de visita. O que distingue um sujeito de outro é a sua essência, que é o que faz com que os amigos se unam e uma certa pessoa rejeite um lindo (?) par sexual em benefício de um outro feio (?) e que porém o supere em aura pessoal, inexplicável qualidade subjetiva, que vem de dentro e se manifesta ou espelha nos outros, sem eles saberem explicar como e por quê.

Ora: a essência das coisas não é a sua apresentação, a sua aparência. Não é o que passe delas. Será o que esteja oculto e não transite para outra realidade, sempre acompanhando o indivíduo para o poder definir e identificar enquanto tal. A essência de cada um não está na apresentação corporal, mas sim na consciência que faz com que esse corpo seja um objeto dotado de vontade e autonomia.

 

A teoria da relatividade, do mítico Einstein, comete o mesmo inocente erro do Sentido Comum em considerar o espaço como entidade prévia e uniforme. E isso trata-se de um vício concetual. Pois enquanto Einstein sustentou não fazer sentido considerar o espaço e o tempo separadamente como entidades físicas distintas, por outro lado afirmava que um fotão, para ir da Terra à Lua a fim de que um cosmonauta depois lá consiga ver a Terra, percorrerá um espaço necessariamente preexistente e com amplitude de 340 mil quilómetros em média e durante um segundo temporal mais treze décimas desse segundo.

Assim acabam coexistindo dois espaços naquela genial teoria: o espaço físico originário, considerado idealmente como «vazio», preexistente a tudo e condição do acontecer universal, sem o qual o fotão não iria da Terra à Lua, e o espaço outro que reside no indissociável espaço-tempo einsteinianamente concebido como um continuum – que todavia e curiosamente ocorre num universo constatavelmente descontínuo (!). Pois nós damos autênticos saltos de cena em cena e por isso a realidade física é um encadeado na sua essência, embora na aparência nos surja como um seguimento, uma continuidade.

O tempo é isso mesmo: enquanto elo entre a cena instante e aquela que se lhe seguirá, por outro lado fazendo com que uma rompa com a outra, a fim de se retomar o processo natural (assim fluindo tudo em direção ao futuro), ele estabelece a descontinuidade na peça inteira, uma vez que a continuidade simplesmente emperraria o desenrolar da história! Para haver sequência, terão de existir hiatos entre as cenas. Uma espécie de falha entre o passado e o futuro que se seguirá a esse passado. De outra maneira, nada distinguiria o passado e o futuro e tudo ficaria estático e estanque, parado como uma cena única, eternamente presente. Que é isso, aliás, o que verdadeiramente acontece à realidade física: ela é um conjunto de cenas estanques em si mesmas, eternas, estáticas, só adquirindo movimento, quando as cenas se relacionem – e precisamente se relacionando através da consciência que toma perceção delas! Por isso os videntes das experiências de consciência em quadro clínico de morte aparente sustentam confrontar-se ao «filme das suas vidas», vendo a vida que têm vivido passar à sua frente como se de um filme se tratasse, através do qual analisam-na em termos morais.

Isso é que é o tempo: a única entidade física estruturante, ou previamente existente, se de facto a realidade física se constituísse assim.

Mas ela não se processa dessa maneira. Pois é o nosso modo de a construir que lhe dá sentido enquanto realidade.

Ou seja: a nossa consciência, que originariamente se trata de uma força capaz de dar sentido ao Mundo, é que estabelece a relação entre o que ocorreu e o que ocorrerá seguidamente. Fazendo com que ela é que constitua o verdadeiro presente, pois essa consciência está em cada momento para o afirmar como real!

Tudo não passa de experiências de consciência! O sonho. A realidade física dita «natural», com as preleções de Einstein ou os cálculos de Heisenberg, ou com os passeios de alguém pelo jardim da cidade. Uma alucinação. Um devaneio. Um desejo e as efabulações correspondentes. Uma experiência de consciência em quadro clínico de morte aparente. Tudo é experiência de consciência. Sem a qual nada teria realidade, por nenhuma realidade saber então que existisse, ou que algo existiria além dela.

A divindade existe – independentemente dos equívocos do Corão e da Bíblia. Não se chama «Alá» ou «Deus», porque não tem nome. Nem é «Senhor», porque não tem sexo! Não é adjetivável, porque não representa um antropomorfismo. Nem deve ser adorada obsessiva e temerosamente (insinuando-se-se a ela bajulatoriamente), porque não criou um Mundo para depois cobrar impostos dele, ainda que de ordem moral, pois não precisa disso (o verdadeiro criador desliga-se da obra, para que ela adquira entidade própria – e descubra o seu sentido).

A divindade é um absoluto de consciência. Apenas isso. Mais existente do que nós e a Natureza. E mais real do que tudo aquilo que chamamos de «real».

E nós nada mais somos do que fragmentos desse Absoluto. Momentos de uma consciência total. Forças de uma superforça. Que tudo pode e faz, pela simples vontade em expressá-la como causa... de toda e qualquer relação, fora do espaço e do tempo.

 

17-12-2013