Menu | Edmundo Vallellano |
Não vemos televisão.
Mas, ao ir-se almoçar fora no dia de ontem, não nos foi dada alternativa senão o aturar um ecrã que já devia ser, atualmente, um fenómeno old-fashioned.
Ficou-se assim conhecedor do falecimento de Eusébio. O jogador de futebol.
Disseram-nos que a incidência no assunto já vinha de todo o dia anterior... .
Mas pelo que nos foi dado observar, tal como em relação a outras situações passadas, invariavelmente concluiremos que o uso e o abuso que sejam feitos de um tema, ou do que se queira que se considere, não só tendem irremediavelmente a banalizar o mesmo, assim o dessacralizando, como, em função do assunto que seja, poderá até torná-lo obsceno. Precisamente pela exposição que do mesmo é feita... .
O nosso pai dizia, com frequência, que «o que seja em demasia começa a cheirar mal».
Por ali se foi vendo um desfile de gente a debitar generalidades, que certamente ouviram dizer a outros um quase não findar de vezes anteriores e em circunstâncias similares. Talvez por não saberem o que fazer às palavras.
A única pessoa, das que por ali vimos, que pareceu estar a sofrer na sua alma, foi a mulher. Aos outros, amanhã, ou daqui a alguns dias, certamente poucos, passar-lhes-á a comoção induzida.
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A morte de alguém, para que seja sentida como rutura na comunicação física e como suspensão na permuta afetiva verdadeira estabelecida ao longo desta viagem pelo Mundo, terá de ser percebida, de ser interiorizada, em ambiente de silêncio grave e num recolhimento profundo, longe das matilhas humanas.
Pois a morte é um facto SÉRIO. Talvez o mais importante para os vivos. Não um espetáculo.
EV,
7-1-2014.